segunda-feira, 28 de maio de 2012
terça-feira, 22 de maio de 2012
BRASIL DA VERANEIO - VERANEIO DO BRASIL
Provavelmente nenhum outro carro nacional consiga representar tão bem uma época, um lugar, um país, como a Chevrolet Veraneio. Olhar esse carro hoje – tão grandão, tão robusto – a um só tempo desajeitado e elegante, é transportar-se para uma época em que se vivia um lindo sonho de bonança e ventura num grande país mergulhado em profunda tempestade.
De fato, é um carro muito forte, feito para durar. Na época em que foi concebido, o Brasil era outro, as estradas eram outras. Com pista dupla existia a Via Dutra, e talvez não mais do que outra meia dúzia de trechos menores ligando os pontos mais importantes. O resto eram estradas de asfalto simples, estradinhas de chão batido ou cascalho e verdadeiras picadas que cortavam a mata presente por todos os lados desse lindo país. Para essas ‘trilhas’ precisava-se de uma perua forte. Havia a Rural - da Willys (e depois Ford) - muito valente, e, no mais, eram os Jeeps e os Fuscas, que na lama também eram muito bons. Pedágio, socorro com telefone celular, GPS? Nem pensar. O tempo era um pouco mais rústico. Esse é o cenário em que se entende a Veraneio. E se naquela época, com aquelas estradas, esse carro era seguro e não quebrava, imagina hoje!
Na realidade, A Chevrolet se deu conta de que havia uma ‘lacuna não preenchida’ no mercado de automóveis da época: um carro robusto, mas também confortável e bonito, que servisse igualmente para o trabalho e para o passeio de toda a família. E assim, foi concebido o maior utilitário nacional já fabricado, realmente um gigante.
Hoje, por onde quer que passe uma Veraneio bonita, é comum ouvir-se comentários do tipo “meu tio tinha uma e a gente sempre saía pescar com ela...” ou ainda “eu dirigia uma igualzinha, quando trabalhava lá na Prefeitura...”, e por aí vai.
O carro, inicialmente batizado de C-1416, foi apresentado pela primeira vez no Salão do Automóvel de 1964, juntamente com a picape C-14. A perua seria a sucessora da Amazona da GM e as linhas de seu desenho eram modernas e elegantes. Economia não era o seu ponto forte mas, afinal, a gasolina também não era assim tão cara naquela época e para empurrar as quase duas toneladas do carro o motor não poderia gastar pouco mesmo. O ponto alto era o conforto, a maciez oferecida pela suspensão. Enfim, o carro agradou, mas não era barato.
Essa não foi a única estréia daquele ano. As duras condições da natureza e da rusticidade do Brasil eram agora acompanhadas pela dura condição da subsistência da vida das idéias e dos ideais, dos conceitos de grito e de silêncio, da guerra e da paz de todo dia e de cada um. O Brasil também inaugurava nesse ano uma era de medo e de meias verdades.
Coincidência ou não, a Veraneio nascida junto com o regime militar foi um dos instrumentos que mais o serviu. Ela era o objeto real que fazia lembrar o conceito subjetivo do poder, o grande objeto visível que ligava quem manda a quem obedece. O passeio que ela oferecia, no entanto, não era exatamente aquele idealizado por toda a família. Veraneio para o bem e para o mal. De forma singular e inusitada, a Veraneio passou do estágio de um simples veículo, vindo a ocupar agora um lugar definitivo no imaginário nacional, no simbólico da representação da história de um país. E foi assim que a ‘viatura’ ficou mais conhecida até os dias de hoje. O fato é que a Veraneio resistiu e sobreviveu ao regime militar, seu último modelo deixou a fábrica quase uma década mais tarde de o último general deixar o poder.
Ver uma Veraneio bonita passando hoje - e como que ‘se assenhorando’ das ruas que ela ajudou a contruir um dia - é sentir um lampejo da vida de um Brasil que não existe mais. Seu primeiro modelo ostentava o mapa do Brasil bem no centro do volante de direção. E no seu bagageiro enorme cabia todo o Brasil: o cheiro da mata, a brisa fria da manhã, o calor do sol sobre a areia da praia, a Panair, a Tupi, a Excelsior, o Repórter Esso, os Irmãos Coragem, o LP novinho em folha girando na vitrola, Evinha, Elis e a última bossa embalando o sonho dos noventa milhões em ação... Brasil do meu coração.
Ver uma Veraneio bonita passando hoje - e como que ‘se assenhorando’ das ruas que ela ajudou a contruir um dia - é sentir um lampejo da vida de um Brasil que não existe mais. Seu primeiro modelo ostentava o mapa do Brasil bem no centro do volante de direção. E no seu bagageiro enorme cabia todo o Brasil: o cheiro da mata, a brisa fria da manhã, o calor do sol sobre a areia da praia, a Panair, a Tupi, a Excelsior, o Repórter Esso, os Irmãos Coragem, o LP novinho em folha girando na vitrola, Evinha, Elis e a última bossa embalando o sonho dos noventa milhões em ação... Brasil do meu coração.
Assinar:
Postagens (Atom)